domingo, 30 de maio de 2010

Breve interrupção, suponho

O Livro de Areia vai ter no mínimo uma semanita de paragem, não por viagem ou lazer, mas pelo que se costuma chamar "motivo de força maior".

Sem lamechices, tenho andado com dores cuja adjectivação seriam palavrões muito feios, e que me envenenam quase todos os momentos, impedido de caminhar. Após várias consultas com gente variada, concluí que tenho de fazer 3 buracos no lombo perto da L5, alargá-la e enfiar um aparelho que a impeça de continuar a deslizar. Chama-se artrodese. Parece que tem alta taxa de sucesso, e depois poderei voltar a dar longos passeios à beira mar ao pôr do sol :)

Com um longo, muito longo período de recuperação, vou ter horas, demasiadas horas para me dedicar ao blog depois do internamento. E para ir lendo estas colunas de livros em atraso... Até lá, os maiores sucessos na nobre arte de bloguear e que deuses, anjos, musas e querubins vos acompanhem e protejam...

sábado, 29 de maio de 2010

Brindemos à idade (continuação)

Como é sabido, isto da idade é um privilégio antigo. Os nossos remotos antepassados das cavernas raramente ultrapassavam 30 anos, tantas eram as mazelas de que sofriam, para além dos perigos que espreitavam fora da caverna. E as coisas evoluiram muito lentamente. Mesmo na Grécia antiga ou na África recente, chegar a velho é um privilégio tal que traz o reconhecimento de sabedoria e a respeitosa liderança da aldeia. Os jovens não servem senão para guerreiros...

Quem escreveu bastante sobre a questão nos povos do ártico foi Jack London.

Só com a segurança da civilização e os progressos da medicina as coisas evoluiram rapidamente, e de tal modo que subverteram a hierarquia: os velhos são muitos, demais, inúteis, um fardo; e duram demasiado. Os mais jovens ocupam os cargos de poder e influência, são os modelos de beleza e de conduta, mas o seu apogeu é breve.

Dois testemunhos muito belos de como ver a idade avançada:

Youth, large, lusty, loving-
Youth, full of grace, force, fascination.
Do you know that Old Age may come after you with equal grace, force,
fascination?

Walt Whitman

Age [along with retirement] appears to be best in four things — old wood best to burn, old wine to drink, old friends to trust, and old authors to read.
Francis Bacon

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Nenhum deus faria melhor

Duas árias da mais admirável música que jamais foi escrita, música de génio, se a há ; são duas preciosidades do super-dotado Georg Friedrich Händel, escritas para acompanhar uma pequena peça chamada "Alceste", esboço de ópera, ou "semi-ópera", que nunca chegou a ser representada. Quem procurar aqui dramatismo ou pathos, bravura ou longos vibratos, não encontra nada disso - só delicadeza, alegria e gentileza, e uma minuciosa articulação entre música e palavra, num contraponto que nenhum compositor conseguiu tão perfeito como Handel.

Come Fancy, empress of the brain

Come Fancy, empress of the brain,
and bring the choicest of thy train
to sooth the widow’d monarch's pain!

Close by his side
in mimic pride
let fair Alceste still display
her charms, as on the bridal day.

Canta Emma Kirkby

Gentle Morpheus, son of night

Gentle Morpheus, son of night,
hither speed thy airy flight!
and his weary senses steep
in the balmy dew of sleep.

That when bright Aurora's beams
glad the world with golden streams,
he, like Phoebus, blithe and gay
may retaste the healthful day.

Gentle Morpheus, son of night
Emma Kirkby George Frideric Handel: Alceste


A gravação é também uma absoluta obra prima dos tempos áureos de Emma Kirkby e da Academy of Ancient Music dirigida por Christopher Hogwood (L'oiseau Lyre). Apetece-me dizer que já não se faz música assim - os agrupamentos de referência das reinterpretações históricas têm vindo a perder frescura e agilidade. Tesouro para a minha ilha deserta, portanto.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Efeito Borboleta

Todos observamos com tristeza o progressivo desparecimento das borboletas dos nossos jardins. Não será a mesma coisa, mas é quase um milagre o que conseguiram Hiroto Tanaka em Harvard e Isao Shimoyama em Tokyo : uma borboletinha feita de angélicas asas de polímero , madeira de balsa e elásticos. O estudo do modelo, a borboleta swallowtail (cauda-de-andorinha), foi ao detalhe minucioso de imitar o exacto tamanho e peso e mesmo o desenho das veias nas asinhas de plástico. Toda a mecânica de voo foi estudada graças a um filme em câmara lenta da borboleta real. O estudo completo, que deve ser monumental, chama-se Bioinspiration & Biomimetics e está para ser publicado em breve.



segunda-feira, 24 de maio de 2010

Socorro! Sufoco com tantos livros!

Mesmo com uma selecção rápida e às vezes injusta, os livros amontoam-se à volta de mim. Só ainda não invadiram o tecto e o teclado do computador. Já excluo as obras de jornalistas pivots e de prémios Nobel recentes; excluo quase tudo o que é PALOP por uma questão de saúde mental, e as BD horrendas que se publicam aos milhares com monstros ou figuras que parecem desenhadas num kindergarten, a 2 dimensões; excluo a 3ª obra ( à 2ª, ainda cedo) de um autor de grande sucesso de aeroporto; claro que conselhos de bricolage ou cozinha criativa viajam por express mail para o lixo; nada de sagas com 5 ou 6 volumes - raramente passo do 2º; novos filósofos, depois de lidas algumas páginas, só me fazem saudade dos antigos, e vão despachados para amigos (servem para as ocasiões); fujo das Memórias (sobretudo de infância), das autobiografias, dos Estudos Políticos e dos maníacos do esoterismo tipo "influência da Kabala na Idade Média no Al-Andalus"; parece que já não sobra nada? Puro engano! Pode não haver pouca gente que faça música, pintura ou cinema de jeito, mas isso não ocupa espaço em casa ; mas livros, são às toneladas, e não me falem em feiras!

Quem anda para aí a fazer campanha pelos livros (já vi um belo vídeo chamado Book) deve estar equivocado. Ainda se publicam mais livros do que telemóveis, e em grande parte com vantagem destes últimos. O livro é uma praga - qualquer zé-ninguém escreve as suas memórias de criança, conselhos de pai, primeiro romance, ensaio cabalístico e experiências culinárias inovadoras. Graças, GRRRR, à internet e aos computadores, qualquer um faz a sua própria edição. O espectáculo mais deprimente que conheço é ver aquelas pessoas sentadas nos sofás da FNAC a ler uma bodega qualquer. Porque não vão ver televisão?

O livro não é democrático. Dos triliões de humanos que já habitaram o planeta, escassas centenas escreveram alguma coisa de jeito. Não digo que se façam fogueiras, mas
1 - as livrarias deviam ter 2 secções:
a) Livros
b) Coisas editadas

2 - Por saúde pública, podia criar-se mais um contentor de lixo para "coisas a não ler", com prémios a quem mais contribuísse e interdição de exportar para Moçambique.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Notícias do Ártico

A linha de árvores e o heróico Lariço

Já há algum tempo não escrevo aqui sobre o ártico, cá vai um post, desta vez dedicado ...às árvores.

A linha de árvores (a verde) e a linha de clima ártico (laranja).

A linha de árvores é a fronteira geográfica do habitat favorável ao crescimento de árvores. A latitudes superiores, podem ser plantadas mas não sobrevivem, porque as condições de vento, temperatura ou escassa profundidade de solo fértil são demasiado hostis. Na região do ártico, esta linha oscila entre os 55º e os 71 º N (ao nível do mar). Para lá, só tundra e a calote de gelo.

Por exemplo, na Gronelândia, na ausência de árvores nativas, fizeram-se várias tentativas de plantação, com poucos casos de sobrevivência crescendo lentamente no Søndre Strømfjord, a 67°N. Conseguiu-se aí uma pequena floresta (floresta de Rosenvinge):

Há 500 000 anos a Gronelândia era realmente verde, coberta de prados, matas e florestas; agora, com um pequeno mas gradual aumento de temperatura, começa a haver mais condições de sobrevivênvia - a linha de árvores está a deslocar-se para norte - e até as mais enfezadas árvores de Rosenvinge (coníferas plantadas em 1893) têm tido um espectacular renascimento: os topos estão a verdejar com novas agulhas ! E há mais prados, mais culturas...

Também no Canadá, Alasca e Noruega algumas espécies sobreviven até perto dos 70ºN. Mas o local onde as árvores conseguem resistir até maior latitude é no planalto central da Sibéria, no vale do rio Kathanga, onde condições extremas de clima continental permitem calor suficiente no verão até aos 72°30'N !

Lariços na floresta de Ary-Mas

A conhecida floresta de Ary-Mas é a mais nórdica do planeta. Devido a um microclima continental, o vale do rio Khatanga é o único local onde árvores subsistem acima dos 70º de latitude – e até aos 72º 30’, 660km a norte do Círculo Polar. Formam uma espécie de ilha de árvores isoladas na tundra.

O Lariço siberiano, árvore admirável

Em condições inimagináveis no inverno, os Lariços sobrevivem a -50º C e ventos que podem atingir 50m/s , que lançam gelo como facas contra as poucas árvores que resistem. Mas resistem. Os lariços, variedade de cedro, sob os ventos do ártico, adquirem formas curiosas:

Estas formas surgem devido aos ventos invernais. Quando neva, o fundo da árvore fica coberto de uma protecção que abriga os ramos baixos dos terríveis ventos árticos. A parte de cima é severamente desbastada. Duas razões explicam a resistencia da floresta: o calor do verão continental e a profundidade do permafrost - o solo fértil de sedimentos fluviais - pode aqui atingir 200 m !

O Lariço da Sibéria ( Larix Dahurica) é uma conífera de crescimento rápido, resistente ao frio, que noutras parte do mundo pode atingir 45 metros; nas condições árticas as árvores raramente passam os 5 metros.

Lariços com cerca de 15 m

A cidade de Veneza deve aos troncos de Lariço sobre os quais repousa a longa sobrevivência dos palácios! Embora se trate da variedade Lariço-europeu, tem os mesmos troncos rijos e resistentes, recomendados para postes, travessas de caminho-de ferro e construção naval, e usados também na construção de cabanas para os povos do ártico.

O rio Khatanga, que gela completamente no inverno

O rio Khatanga fica na península de Taymyr , uma região ártica habitada pelos Naganasans, um povo tradicionalmente nómada de caçadores, pescadores e pastores de renas, muito mal tratados durante o regime soviético. São a população mais nórdica do planeta, e não foi por acaso que se estabeleceram na última região fértil da tundra. Possivelmente, alterações climáticas virão a dar a estas populações condições com que nunca sonharam...Voltarei ao assunto num futuro post.

Mapa:

Fonte principal:
http://www.wondermondo.com/Countries/E/RUS/Krasnoyarsk/AryMas.htm

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Oito

Buracos negros, buracos brancos...


João Boavida publicou um artigo chamado "Portugal feito num oito" que o blog "De Rerum Natura" citou. Gostei muito:

"...dentro de alguns anos oitenta por cento da população portuguesa esteja concentrada nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto."

"Um corpo estrangulado pela cintura, enquanto o tronco e pernas morrem com tanta gordura acumulada. "

Não faltam ao Centro recursos logísticos, turísticos, humanos. Portos com capacidade de ampliação, rede de estradas, hotelaria, produção regional única. Porquê este estrangulamento? Mais uma doença crónica da República - ao menos os Reis por vezes estabeleciam a corte em Leiria ou Vila Viçosa.

Poucos países têm um tão grande desprezo por parte do seu território. As linhas de combóio do centro foram desmanteladas ou estão ao abandono. Zonas a 100 km da costa sofrem de "interioridade". Então Salamanca ? e Cáceres ? e Praga ? O que define interioridade ja não é a geografia: é o centralismo megalómano e pacóvio. A Suíça é há séculos mais desenvolvida que a Macedónia. Quanto a localização estratégica, está tudo dito.

Nem TGV nem Aeroporto, nem ParqueEscola: o mais urgente é dar alento a essas regiões de um Portugal doente quase terminal.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Compositores menos conhecidos

Domenico Zipoli

Domenico Zipoli (1688, Prato, Itália -1726, Córdoba, Argentina) foi um compositor italiano da epoca barroca, que estudou com Scarlatti em Nápoles.

Fez-se Jesuíta em Sevilha e voluntarizou-se para missões no Paraguai, onde desenvolveu talentos musicais entre os Guaranis. É reconhecido como o mais completo e criativo músico Jesuíta, e certamente um dos que com mais alegria comunicaram por música.

Domenico Zipoli- Messa di Sant'Ignazio -Kyrie
dir. Gabriel Garrido



Domenico Zipoli (1688-1726) - All'Elevazione
Lorenzo Ghielmi, órgão Schwarz




Boa semana!

Antes foram:

John Marsh , Gerald Finzi

domingo, 16 de maio de 2010

Beleza que vem com a idade


A nostalgia dos nossos corpos jovens e daqueles que conhecemos faz parte das amarguras que a vida nos traz; mesmo assim, há coisas que podemos valorizar em nós e nos outros com o avançar da idade, descobrir insuspeitas belezas e mesmo aprender a amar. Uma ruga, um olhar cheio de memória, uma mão com história, uma pele tostada, e muitos muitos traços que se reforçam ou atenuam com o tempo e trazem outro encanto. Devo dizer que nunca achei a minha mãe tão bonita como agora; e algumas senhoras aqui abaixo fotografadas como Liv Ullman ou Judy Densch exercem uma nova mas inegável sedução. Será que se passa o mesmo com Newman ou Cohen para as senhoras?

Há pouco a Gi escrevia sobre o assunto no Garden of Philodemus. Esta é uma pequena homenagem à beleza da maturidade.


Palavras de um grande Presidente

Os pais fundadores da Democracia eram Homens de outra têmpera. James Madison (1751 –1836) , o 4º presidente dos Estados Unidos, era filósofo além de político. Foi o principal autor da mais antiga constituição do mundo (1788), pela qual se bateu toda a vida, Contemporâneo de Mozart (dá vertigens!), produziu extensa obra de pensamento político. Algumas citações:

A popular government without popular information or the means of acquiring it, is but a prologue to a farce, or a tragedy, or perhaps both.

Um governo do povo sem que o povo esteja informado ou tenha meios de adquirir informação é o prólogo de uma farsa, ou de uma tragédia, ou ambos.

Knowledge will forever govern ignorance; and a people who mean to be their own governors must arm themselves with the power which knowledge gives

O conhecimento há-de sempre governar a ignorância; um povo que se quer governar tem que se armar com o poder que o conhecimento confere.

Religious bondage shackles and debilitates the mind and unfits it for every noble enterprise, every expanded prospect.

A escravidão da religião agrilhoa e debilita a consciência e torna-a inapta para experiências novas, para perspectivas mais largas.

In no instance have... the churches been guardians of the liberties of the people

Em caso nenhum as igrejas foram guardiães das liberdades dos povos.

Hoje Madison seria um infame ateu. Como é posssível que ao fim de 200 anos não tenhamos aprendido nada ?


sexta-feira, 14 de maio de 2010

o Homem divino

Para ultrapassar esta semana, uma homenagem à transcendência. Pela arte, esta pequena formiga bípede pode atingir o sublime divino e a redenção. Não por acaso, Fratres de Arvo Pärt :

"A música é como a luz através de um prisma: pode ter significado diferente para cada ouvinte, criando um espectro de experiências musicais, tal como um arco-íris de luz".

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dispenso Papas - 5 e último

Nova lei da Blasfémia na Irlanda

Desde 1 de Janeiro, uma nova lei contra a blasfémia na Irlanda entrou em vigor, com multas até 25000 €. Define blasfémia como " publicar ou divulgar material grosseiramente abusivo ou insultuoso em relação a assuntos tidos como sagrados por qualquer religião, causando intencionalmente ofensa a substancial número de aderentes dessa religião".

Isto é para que se veja como os radicais islâmicos aprenderam com alguém na mesma escola:

As leis contra a blasfémia já tinham sido recusadas no Reino Unido em 2008; pretendiam impedir insultos e críticas contra as crenças cristãs, mas foram consideradas contrárias à liberdade de expressão e aos direitos humanos. Pois agora a Irlanda aprovou essa mesma lei da blasfémia! Não estão em causa pessoas, claro, que têm direito ao respeito e ao bom nome; mas as ideias, o pensamento, as crenças, não podem ser blindadas contra a expressão pública do pensamento, seja ele sério ou humorístico! Pobre Guerra Junqueiro, ficava a arder com os 25000€ de multa. Já houve tempos de maior liberdade de expressão.

Triste ou grotesco?
Hoje na TSF, um repórter entusiasmado : "Uma multidão de padres, freiras e seminaristas vitoria o Papa à sua entrada..."

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dispenso Papas - 4

Em cada aldeia, há um homem que levanta a chama - o professor - e outro que tenta apagá-la - o clérigo.

Vítor Hugo


Questionemos mesmo a própria existência de Deus; porque, se Deus houver, deve aprovar muito mais uma homenagem da razão do que o medo cego.

Thomas Jefferson

Os homens nunca fazem Mal tão intensamente e empenhadamente como quando o fazem em nome da convicção religiosa.

Blaise Pascal

Nota
"Atheist Bus" é uma campanha contra a crença religiosa que tem percorrido vários países da Europa (ao que sei, Inglaterra, Espanha, Alemanha, Holanda, Itália - mas só em Génova! -, Finlândia), vários estados americanos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia.

A campanha foi lançada pela British Humanist Association.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Dispenso Papas - 3

Com que moral condicionamos as crianças para as nossas crenças ? Se acabamos por lhes contar que os bébés não vêm de cegonha e o Pai Natal não desce a chaminé, porque não lhes revelamos as outras mentiras e lhes damos a opção de escolha?

Não despejes lixo na tua cabeça - há locais próprios!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Dispenso Papas - 2

Graças a Deus, sou ateu !

Salvador Dali

Quando é que descobri que sou Deus ? Bem, estava a rezar e de repente tomei consciência de que estava a falar comigo próprio.

Peter O'Toole

Fotos da campanha Atheist Bus

Horrível, horrível, horrível

Mas o que é isto, um pesadelo? Uma tortura pós-moderna ? Ai, assim prefiro morrer esta semana . Só Monstros.

Muito pior que o Bocelli!

domingo, 9 de maio de 2010

Futebol, Fátima e país Falido

Dispenso Papas - 1

Com receio de ser desagradável, pelo que desde já peço desculpa (costumo ser tão consensual...), vou começar aqui uma pequena campanha anti-papal. Irrita-me tanto a vinda do Papa como o jogo da bola ou o Tony Carreira, mas neste caso a histeria nacional, o decretar de feriados, o arregimentar de criancinhas em T shirts - tal como para a apoiar a Selecção, claro -, as despesas idiotas com palanques, cerimónias, guarda policial, tudo isto reveste um tal grau ZERO de civilização e racionaldade que não consigo ficar indiferente.

A receita para um país falido, e não apenas economicamente, falido como país, como nação, já Salazar a tinha: fado, fátima e futebol. Circo para o povo, mas não um circo qualquer - um circo ideológico que comunica conformação com valores e dogmas, e dá escapes emocionais às frustrações. Um circo que está na base do atraso, da recusa do progresso, da indiferença pela elevação cultural.

A vinda do Papa e a vitória do Benfica vêem mesmo a calhar num período coberto de cinzas vulcânicas como o que atravessamos, com os poderes internacionais ao mesmo tempo paralizados face ao pandemónio económico e delirantes com a oportunidade de encher os bolsos à custa dos mais fracos, pois o caos reinante é o meio ideal para manobras especulativas e o desenho de novas estratégias lucrativas.

Aleluia, vem o Papa! Aleluia, o Benfica ganhou! A festaça vai ser grande, a ressaca talvez ainda maior. Portugal não é uma nação, não tem futuro, não tem projecto, não tem alma ? Ora, paleio de velhos do restelo, miserabilistas e traidores. Então e o Ronaldo, e o Mourinho, e a Kátia? Hã? Grandes portugueses, hã? E vem aí o 13 de Maio, aleluia, esqueçam essas perrices. E depois vamos a ver quem ganha , se o Cavaco se o Alegre. Ambos grandes homens, pensadores de escol!

Vou por isso começar uma pequena campanha nesta semana que para mim é de luto e doença, física e mental. Não tenho culpa de ser ateu, é daquelas evidências que dois dedos de racionalidade me impoem. Não é a pessoa do Papa que ponho em causa: são as crenças e crendices, as manipulações em massa, as mentiras passadas como verdades, o jogo sarcástico dos poderosos com a ignorância dos povos.

Dispenso Papas - 1


"Se Deus existe, espero que tenha uma boa desculpa !"
Woody Allen

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Canção para uma manhã de Maio


Hail, bounteous May, that dost inspire
Mirth, and youth, and warm desire!
Woods and groves are of thy dressing;
Hill and dale doth boast thy blessing.
Thus we salute thee with our early song,
And welcome thee, and wish thee long."

- John Milton, Song on a May Morning, 1660

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Reizinho

Os meus heróis da BD - III

Um cartoon que saía no Primeiro de Janeiro dos domingos, nos anos 60, da autoria de Otto Soglow (1900 - 1975).

Este monarca gorducho e pouco convencional estava mal na sua pele: ingénuo, simples e algo poeta, desejava a vida normal dos seus súbditos. Cometia gaffes, brincava como uma criança. O seu reino também não era deste mundo...

Próxima do cinema mudo, a banda desenhada de Soglow nunca deu a palavra ao Rei, silencioso e imperturbável. Na corte de ministros, lacaios, guardas e rainha, o único que destoava era ele próprio, excêntrico e metido em situações embaraçosas.

"The Little King" foi publicado regularmente como tira em jornais americanos e europeus.

Clicar para ver tamanho maior

terça-feira, 4 de maio de 2010

20 000

O Livro de Areia passou o cabo das 20000 visitas. Para festejar, e como tenho andado a revisitar comics, cá vai uma deliciosa curta metragem do Simon's Cat. Bom proveito !

Lampadinha, Gyro's helper

Os meus heróis da BD - II

Nunca fui assíduo dos Pato Donald , Mickey e semelhantes. Personagens banais, histórias banais. Há contudo alguns rasgos de invenção , raros mas que só por si valiam a leitura; Madame Min, o fantástico Mancha Negra, o atabalhoado primo jornalista Peninha, e o divertido detalhe do Lampadinha, ajudante do prof. Pardal (em inglês, Gyro Gearloose, "caixa desconjuntada"...). O Gyro's helper era um robozinho que pontuava discretamente mas com brilhante humor e design as intervenções chatas do dono, uma criaturazinha adorável com cabeça de bolbo elétrico.

O seu uso foi tão casual que nem chegou a ter nome - era apenas o Gyro's Helper. Nasceu em 1956 da mão do criador Carl Barks, sem qualquer explicação. Mais tarde, Barks afirmou que ele se destinava a disfarçar o vazio dos quadradinhos e das histórias..." Sentava-se para ali sozinho, a falar consigo próprio, ou em pequenos gags a um canto do quadradinho, preenchendo um vazio emocional..."

Depois o Lampadinha evoluiu, intervindo cada vez mais com o seus gags, metendo-se com animaizitos, e tornou-se um malicioso salva-desastres do mestre. Talvez tenha sido um precursor das célebres carochas de Gotlib...

domingo, 2 de maio de 2010

Ran-tan-plan

Os meus heróis da BD

Até a sombra é mais esperta!

Nunca me interessei muito pelos super-heróis da BD, salvadores do mundo de vários tipos, modelos de moral e inteligência, mas ria a bom rir com os anti-heróis. O Ran-tan-plan era um dos meus favoritos: um cão particularmente destituído de inteligência mas que surpreendia em momentos cruciais. O desenho que Morris lhe deu é de um cómico irresistível. E confesso que ainda hoje muitas vezes me revejo nele nos meus momentos menos bem sucedidos...

Os cães são dos mais frequentes personagens de BD: a Lassie, o Rin-Tin-Tin, o Milou, o Idéfix, Cubitus. Mas nenhum deles tem a personalidade marcada e a comicidade do Ran-tan-plan. Trapalhão, dado a todo o tipo de acidentes e apaixonado por Joe Dalton (que lhe tem um ódio visceral), é o contraponto para o super-dotado cavalo Jolly Jumper. Mas quem se lembra do Jolly Jumper?