segunda-feira, 30 de abril de 2012

A igreja de Våler: luxo de ricos, com arte de pobres

Våler é uma aldeia na Noruega central.

Para substituir uma igreja de madeira do séc. XVII que ardeu por completo em 2009, foi aberto em 2011 um concurso de arquitectura internacional.

Sendo a Noruega o país que é, os projectos concorrentes eram todos arrojados e caros. Ganhou um gabinete espanhol de Madrid, OOIIO.


O telhado da estrutura em madeira, de cota baixa, desdobra-se num passeio público com vistas...


Uma igreja acessível e simpática mesmo para quem não assiste ao serviço religioso. Um gesto urbanístico significativo.



Já agora, a outra igrejita que fica mesmo ao lado é esta:



Afinal, os PIGS têm ideias que são apreciadas "lá em cima", não é ?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

My Brightest Diamond

Not-classical !

Ainda há surpresas. Esta senhora auto-intitulada "o meu mais luminoso diamante" (!!!) tem uns vídeos muito bem feitos ( a ver ampliados) e uma voz envolvente, sensível:



Dos mais lindos vídeos que já vi:

Chama-se Shara Worden, e trabalhou com David Byrne e Laurie Anderson, não admira.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

(des) gostos do 25

Não sei realmente o que escrever hoje... dia de ânimo ou de desânimo?

Há muitos modos de não-democracia. Além dos modos extremos do nazismo e do estalinismo, indefensáveis em absoluto, há estas modalidades mais suaves em vigor na China, em Cuba, na Venezuela, na Bielorrússia, nuns casos sob o anonimato de um partido único, noutros sob o abuso de poder de um demagogo populista. Não vejo caso nenhum, contudo, em que haja "despotismo iluminado", como tenho ouvido defender, em que o poder absoluto seja exercido por alguém superiormente culto e dedicado ao bem estar da população.

Desanimados com as ditaduras, estaremos animados pela expansão da democracia no mundo ? Nem por isso. Ouvem-se queixas crescentes contra os partidos, a liberdade dos mercados, os poderes encobertos, as ditaduras financeiras. O engraçado é que há unidade em volta destas críticas entre os mais à esquerda e os mais à direita. Surge a dúvida se não são os patrocinadores das ditaduras acima referidas quem mais ferozmente critica estas débeis democracias.

Como poderei então estar "animado" com o 25 de Abril, coisa anacrónica de há 38 anos ? Ou desembocava no primeiro cenário, ou desembocava no segundo. Cá estamos.



Contra o que cada vez mais se diz por aí, penso que o único ânimo que posso acalentar tem a ver com estarmos na Europa, estarmos no Euro. É como uma velha casa aristocrática que empobrece a olhos vistos, mas mesmo arruinada continua acolhedora, bonita e cheia de boas recordações. Tem uma dignidade como há poucas, boa vizinhança e portas abertas ao exterior. É onde fizemos amigos e trocámos amores. Sinto-me bem nesta casinha, nem que tenha de comer côdeas.

E percebo que terei de comer côdeas.

Não sei se tenho que agradecer a Abril.
Não era isto que eles queriam.
O Abril dos militares heróicos era o Abril das côdeas, sim, mas sem Europa. Era o "despotismo iluminado" ao contrário - a certeza de uma mediocridade social e cultural igual para todos. O que me anima, talvez, é que eles foram derrotados, e que, melhor ou pior, sempre fomos subindo os degraus na casa europeia. Porque nisso votámos.

Mas também... não era "isto" que eu queria.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

St. George, England and Master Shakespeare

Hoje é o dia da nação inglesa, do seu patrono S. Jorge e de William Shakespeare, falecido a 23 de Abril de 1616.

Aqui vai um divertido Midsummer night's dream, em filme de animação da BBC, com boa parte do texto original e uma narração exemplar. O William devia fartar-se de rir. Viva St. George, viva Albion.

"The course of true love never did run smooth"






sábado, 21 de abril de 2012

Branda do Crastibô


Continuando por cá: já que tenho mostrado sítios remotos lá de fora, hoje aqui vai um sítio remoto... cá dentro, como o momento turístico exige. Pobre, triste, abandonado, mas tão bonito nesta desgraça toda... típico, enfim.


Soube por voz amiga desta aldeia abandonada nas faldas da Peneda, para os lados de Ponte da Barca. Não há estrada - a mais próxima fica a dezenas de quilómetros.


Não admira que a aldeia tenha ficado deserta. Mas a natureza, já de si generosa, encarregou-se de integrar as casa abandonadas, os muros e as calçadas, o musgo encarregou-se de decorar, e num nenhures de Portugal (é impressionante a quantidade de nenhures que há em Portugal !) nasceu esta beleza.


Uma branda é uma aldeia de ocupação temporária, no Verão, mais acima da encosta; lá em baixo, corresponde-lhe a Inverneira, aldeia de inverno. Anualmente as populações transferiam-se com o gado prara onde os pastos e os terrenos têm melhores condições.


Agora, Crastibô recebe apenas visitas de caminhantes - a Branda está num percurso pedestre de montanha que parte da aldeia de Sistelo, na EN 202-2, no concelho de Arcos para percorrer o Vale Glaciário do rio Vez. Vale a pena, parece.


E é assim, o Portugal que ainda não está estragado é o Portugal que ninguém já quer. Mas a Europa é isto também.

Fontes: Aromâncias e A Caminhar por...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Uma outra Linha do Tua


Eis o que podia ser a Linha do Tua se fôssemos um país rico e civilizado:


O rio, as encostas, igualzinho ao Tua , não é ?


Mas um combóio assim, era bom demais...

 
Pois, estamos nos antípodas mesmo, a linha parte de Dunedin, uma das cidades mais bonitas da Nova Zelândia, e corre a garganta e o vale do rio Taieri. Visitados por gente de todo o mundo...

Só podia ser Portugal de pernas para o ar.

terça-feira, 17 de abril de 2012

ti cala, vai?

Quando é a própria PT institucional a tratar assim a língua nacional, percebe-se o porquê do Acordo Ortográfico. Afinal, tanto faz, a língua é para morrer mais cedo ou mais tarde.

Hello
Mi liga, vai

Mas que cosmopolita esta PT ! Estarão a pensar vendê-la a mercados emergentes ? E vamos ter uma campanha em mandarim? e outra em romeno, ucraniano... ?

Nota: este cartaz está afixado na cabine telefónica em frente a minha casa.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Longyearbyen, a última capital europeia a caminho do Pólo Norte

Continuando a viajar pelo nosso extremo Norte ...

As Ilhas Svalbard ainda são Europa, são justamente o cantinho noroeste da placa Eurasiana, na borda da falha intercontinental. Já tão perto do Pólo Norte, bem podemos referir o arquipélago como sendo a Última Europa.


Sob soberania condicionada da Noruega, não estão na União Europeia; há mesmo uma área sob jurisdição russa, uma aldeia mineira. Grande parte do território é deserto polar, coberto sob (ainda) espessa capa de gelo. Algumas bases de investigação científica em zonas costeiras abrigadas não bastam para povoar um território de dimensão pouco inferior à de Portugal.

Mas, espanto, a ilha tem uma CAPITAL ! Chama-se Longyearbyen e tem uns 2100 habitantes, anualmente renovados e em crescimento, pois além de institutos científicos, há uma Universidade, instituição europeia por excelência - com tudo o que de bom isso traz - vida nas ruas, comércio, restauração, hotelaria, museus, centro cultural...

Svalbard é um arquipélago norueguês no Oceano Ártico, cuja ilha maior é Spitsbergen. Foi descoberto em 1596 pelo navegador holandês Willem Barentsz.

O Tratado de Versailles, no fim da 1ª Grande Guerra, entregou Svalbard ao reino da Noruega, mas permitiu a cidadãos das restantes nações signatárias direitos de residência em plena igualdade - direito de propriedade , de exercer actividades comerciais e de investigação científica. Essa igualdade de direitos cosmopolita é que tem atraído tanta gente.

A cidade de Longyearbyen, na embocadura do Adventfjord; no canto inferior direito, a fundo do glaciar Larsbreen, a universidade do Ártico UNIS

Nas coordenadas 78°13′N, 15°33′E, Longyearbyen é a cidade mais setentrional do mundo. Deveria ser mais ou menos abandonada e miserável. Tudo menos isso: os padrões noruegueses e o turismo deram-lhe uma invejável qualidade de vida.


Localizada na margem do Isfjorden, mais precisamente na foz do subsidiário Advenfjord, a cidade está rodeada de um cenário espantoso de montanhas, fiordes e glaciares .

Foi fundada em 1906 por um industrial americano, John Munroe Longyear, que fundou a actividade económica que durante um século foi a principal do arquipélago - exploração de minas de carvão; ainda hoje é a indústria que emprega mais pessoas na ilha.

Longyearbyen, rua principal

O centro da cidade num dia ameno de verão...

...e no início da primavera.

De Outubro a Abril, vive-se sempre às escuras ou num crepúsculo permanente, mas em compensação o sol nunca se põe em em Maio, Junho, Julho, e grande parte de Agosto. O regresso anual do Sol é sempre uma época ansiosamente esperada e celebrada com festejos.

A côr mais frequente em Longyearbyen é o vermelho escuro, mas casas mais recentes têm vindo a dar um colorido mais variado à paisagem urbana.




Uma área residencial típica


Desde o séc. XVII, Svalbard tem sido visitada por gente de várias nacionalidades, que se esabelece em actividades como a caça, a pesca, a investigação, mas sobretudo nas minas de carvão.

O velho sistema de cabos suspensos para transporte do carvão.


A pequena mina nos arredores da cidade é actualmente usada apenas para abastecer a central térmica de energia.

Mas a cidade evoluiu de uma povoação mineira para um município com mais de 2 000 residentes, permanentes ou temporários. Cada ano, cerca de 100 pessoas partem e são substituídas por outras 100 - cientistas, guias turísticos, mineiros, administradores - de mais de 30 países.


Não há carros, e o município desencoraja o uso dos todo-o-terreno na cidade; bicicletas no verão, skis no inverno.

Mas estar bem na vida é ter snowmobiles. Praticamente todos têm.


A igreja mais próxima do Pólo Norte

A 78°13′N 15°33′E,
é em madeira e foi inaugurada em 1958:

É o ex-libris que figura nos postais da cidade.


O café e casa de chá da igreja.


Há hoje em Longearbyen uma razoável oferta de comodidades urbanas: pavilhão desportivo, piscina, galeria comercial, mercado de grande superfície, bares, cafés e restaurants, sete hotéis, algumas lojas, cinema...

O Hotel Svalbard - com esplanada !

O Restaurante Kroa:

Ah! esplanada!

A Kulturhuset

No recente centro cultural e cafetaria Kulturhuset há exposições e concertos - e esplanada !

Huset Kafé, uma casa histórica aberta nos anos 50:

A Huset é o mais antigo restaurante e café, agora com cinema e sala de concertos.

Vista de uma janela da Huset.

A Galeria Svalbard

Não falta também uma galeria na cidade, onde expõem artistas locais.


Yngve Henriksen, Galleri Svalbard


As galerias comerciais Lompensenteret



A escola

Também é a escola mais setentrional do mundo, claro, e frequentada por crianças de mais de 12 nacionalidades:

Hora de recreio

O Museu Svalbard

Situado no Centro de Ciência da Universidade, é o edifício de mais bela e arrojada arquitectura da cidade:




UNIS - A Universidade de Svalbard


O Centro Universitário representa quatro Universidades norueguesas e oferece estudos superiores em assuntos relacionados com o Ártico.


A arquitectura interior também é surpreendente.



Hotéis

Recentemente entrou em funcionamento um aeroporto international com voos regulares ; também aumentou o número de navios de cruzeiro que visitam a cidade e as ilhas. O turismo está em expansão e o negócio hoteleiro começa a ter relevância na economia local. São exemplo o Radisson Blu ou este Spitzbergen Hotel :



Vista de uma janela do hotel.

A PAISAGEM ÁRTICA CIRCUNDANTE

Longyearbyen está cercada de fiordes - o Advenfjorden e o Isfjorden - e glaciares - Longyearbreen, Larsbreen, Monacobreen, Esmarkbreen.


O Isfjorden

O Isfjorden foi observado por Willem Barentsz na sua viagem de 1596.

O Isfjorden visto de Longyearbyen

Um baleeiro Basco de San Sebastian estabeleceu aqui a primeira base temporária de caça à baleia em 1612. Desde 1613, navios baleeiros frabceses, bascos e holandeses recorreram a Trygghamna (porto seguro) na entrada norte do Isfjord.


O fjorde apresenta falésias impressionantes, habitadas por aves


Villa Fredheim, uma antiga cabana de caçador



Gammelhytta (a cabana velha) é parte da Villa Fredheim onde o caçador Daniel Nøis e o seu sobrinho Hilmar viveram desde 1911 mais de 40 anos, caçando ursos polares, raposas e focas pelas suas valiosas peles, e também renas para alimentação.

É um exemplo de antiga cabana de caça no ártico - musgos preenchem as frinchas da madeira, madeira e casca de bétula nas paredes e tecto, depois cobertos com turfa.

Larsbreen, o glaciar às portas de Longyearbyen

Ao longo do vale glaciar estende-se Nybyen, a cidade universitária da UNIS

O glaciar Esmarkbreen, atravessando o Isfjorden

Na hora certa, o Esmarkbreen reflecte uma espectacular luz azul.

Monacobreen, o glaciar Monaco


Uma frente de 6 km.

O navio de cruzeiro Fram em visita ao glaciar Monaco-


As Estações

A primavera e o verão surpreendem pela colorida flora ártica - umas 170 espécies de plantas floridas decoram o solo branco ou cinzento.

Silene roxa (silene uralensis)

Dríade da Montanha (dryas octopetala)

Saxifraga roxa (Saxifraga oppositifolia)

Depois dos meses do outono e inverno,


chega, por volta de 19 de Abril, o primeiro dia de sol:

E não tarda a luz prolonga-se noite fóra...


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O Global Seed Vault, em Svalbard

Já publiquei no Livro de Areia sobre o Global Seed Vault, aqui.