quinta-feira, 14 de agosto de 2014

La Prose du Transsibérien et de la petite Jehanne de France


Este sim, um livro que é em si mesmo também obra de Arte.


" Prose du Transsibérien et de la petite Jehanne de France "
- représentation synchrome / peinture simultanée/ Mme Delaunay-Treck / texte Blaise Cendrars.

Publicado em 1913 nas Éditions Les Hommes Nouveaux, é considerado a primeira obra simultânea, neste caso de literatura e pintura, criada por dois autores trabalhando em cooperação. A simultaneidade está na sua concepção e na apresentação pública, mais do que no trabalho de realização, em que cada um trabalhou ao seu ritmo.

Blaise Cendrars e Sonia Delaunay faziam parte, na Paris de 1912, de um grupo que incluía Chagall, Modigliani, Apollinaire, e outros artistas do movimento Modernista. Decidiram colaborar na criação do livro, um escrevendo e imprimindo um longo poema, a outra criando ilustrações de manchas coloridas - verde, laranja, azul... - na tipografia; as manchas de côr são pedacinhos de papel recortado e colado com minúcia. Depois montavam a obra, página a página, meticulosamente.

O único elemento figurativo é uma torre Eiffel, piscadela de Delaunay a Cendrars que se tinha inspirado ao ver uma carruagem do Trans-siberiano junto à Torre durante a Exposição Universal de 1900.


A paginação também rompe as convenções ao alinhar o texto à direita, obrigando o leitor a entrar no poema pela imagem.

Cada exemplar original era um longo quadro-poema longo de dois metros, e na totalidade os 150 exemplares fariam 300 metros, a altura da Torre Eiffel. A enorme folha era dobrada a meio e depois dobrada dez vezes em acordeão, apresentando um formato final 180 x 100 mm, próximo de um livro convencional.
Infelizmente a procura foi pouca, e só foram acabados 70 exemplares.


Quase todos os grande Museus - MoMA, Ermitage, Tate Modern - têm o seu exemplar, outros estão na posse de particulares, e alguns foram transacionados em leilão. Em 2004, o n°1, em pergaminho, vendeu-se por 350 000 euros na Sothebys.


O poema é uma viagem alucinada pelo Extremo Oriente da Rússia, incendiado pela guerra russo-japonesa. Terá Cendrars embarcado no trans-siberiano ?
O próprio responde, "Qu'est-ce que ça peut te faire, puisque je vous l'ai fait prendre à vous ?".

La Prose du Transsibérien, o primeiro poema Modernista, vai tornar-se livro de culto.


"Blaise, dis, sommes-nous bien loin de Montmartre?"
Nous sommes loin, Jeanne, tu roules depuis sept jours
Tu es loin de Montmartre, de la Butte qui t'a nourrie, du Sacré Coeur contre lequel tu t'es blottie
Paris a disparu et son énorme flambée
Il n'y a plus que les cendres continues
La pluie qui tombe
La tourbe qui se gonfle
La Sibérie qui tourne
Les lourdes nappes de neige qui remontent
Et le grelot de la folie qui grelotte comme un dernier désir dans l'air bleui
Le train palpite au coeur des horizons plombés
Et ton chagrin ricane...

"Dis, Blaise, sommes-nous bien loin de Montmartre?"



' O Paris
Gare centrale débarcadère des volontés, carrefour des inquiétudes
Seuls les marchands de journaux ont encore un peu de lumière sur leur porte
La Compagnie Internationale des Wagons-Lits et des Grands Express Européens m'a envoyé son prospectus
C'est la plus belle église du monde '



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Integral :
http://lapoesiequejaime.net/bcendrars.htm

3 comentários:

Mário R. Gonçalves disse...

Não sabia, humming, e partilho a sua perplexidade. Quando ouvir, receio não conseguir abstrair da repulsa pela Cova da Iria.

Obrigado pelo alerta :)

Gi disse...

Mário, obrigada pelo post e pela ligação ao poema integral.

Tão poucos exemplares, e eu não me importava nada de ter um...

Mário R. Gonçalves disse...

Nem eu, Gi. E já era tempo de fazerem uma edição acessível para tempos austeros.