segunda-feira, 1 de maio de 2017

ditadura = iliberalismo



Navegamos à vista, sem rumo, num mar aberto e livre mas junto às costas fatais da ameaça totalitária.  Acontece que estas costas sabem iludir os navegantes com verdura e nevoeiro a disfarçar negras arribas e rochedos.

Os candidatos a ditadores já aceitam ir a votos. Manobram como podem, e acima de tudo mal se vêem a controlar o Estado tornam-se absolutistas e até são tentados a nomear herdeiros. Mas continuam sempre a reclamar-se democratas, e defensores dos direitos humanos. Democracia e direitos tornaram-se a vegetação que cobre as arribas, um argumento irrecusável, consensual, mesmo que muitas vezes aberrante. A Coreia do Norte é a única excepção que se assume ditadura à antiga, férrea e tenebrosa. Os outros - Orbán da Hungria, Maduro na Venezuela, dos Santos em Angola, Erdogan na Turquia, Putin na Rússia... - são caudilhos pós-modernos, cautelosos e ardilosos, com gosto pelos media e até pelas redes sociais, apoiados num aparelho de Estado com poderes excessivos que lhes garante eleições (e referendos) favoráveis.

Não, ir a votos já não basta para ser democrata. É preciso que o Estado continue limitado nos seus poderes, e que haja fortes contra-poderes: oposição livre e vigorosa, tribunais independentes, economia de mercado. É preciso, e cá chegamos, que haja LIberalismo !

Pois. Orbán disse, e com razão, que a Hungria é uma Democracia iliberal. Democracia agora dá para tudo - Trump e LePen são democratas, tal como Putin e o premier chinês Li Keqiang. Não são é Liberais, são chefes de um Estado absolutista, nacionalizador, não dão espaço de liberdade para a sociedade civil. O Liberalismo é actualmente a única alternativa à novi-Ditadura. Ser anti-liberal é nacionalizar, ter a oposição e os media sob controle, reforçar o poderio do exército - e isso é uma Ditadura.

Há evidentemente uma culpa da "extrema-esquerda" nisto tudo. Clamando contra o liberalismo, o Imperialismo, a Globalização e a soberania Europeia, abrem campo às ditaduras todas, aos "fascismos" de esquerda ou de direita, disfarçados ou assumidos. LePen é filha de Robert Hue e de Mélanchon. Trump está grato às esquerdices de Clinton e Sanders; o  Bloco de Esquerda admira Chávez e Mélanchon; o PC de Jerónimo Sousa admira a Coreia do Norte e até a Rússia, o contrapeso anti-democrático e estratégico que ainda lhes dá esperança.

Que viva o Liberalismo, digo eu, regulado, claro, com um Estado Social decente, mas liberalismo sério - como nos paises escandinavos, na Áustria, no Canadá, na Nova Zelândia.

E se a direita radical (que não é "extrema-direita")  ameaça agora as democracias liberais europeias, não esqueçamos a ameaça que foi durante décadas a esquerda radical, sempre à espreita do momento certo para o seu terrorismo anti-liberal, anti-globalização, anti-europeu. O alerta em mar costeiro é para as várias falésias negras do rochoso litoral.



Disso sei eu, por lá andei.


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