quarta-feira, 29 de novembro de 2017

40 regras para bem escrever, adaptadas de Umberto Eco e William Safire


Umberto Eco, em La Bustina di Minerva, refere uma lista de 54 regras para bem escrever em inglês da autoria do jornalista americano William Safire (*); lista que Eco adapta para bem escrever italiano em 40 regras. Será presunção minha, mas atrevo-me a adaptá-las de novo à minha lusitana língua, até porque o humor paradoxal de algumas é delicioso. Note-se que as regras nº 4 e 21 são de difícill interpretação.


40 regras para bem escrever, adaptadas de Umberto Eco.

    1. Evitar as aliterações, mesmo que atraiam os trengos.

    2. O conjuntivo não tem de ser evitado, recomendo apenas que seja usado só quando necessário.

    3. Evitar as frases feitas, são caldo requentado.

    4. Exprime-te tal como te alimentas.

    5. Não usar siglas comerciais e abreviaturas, etc.

    6. Recorda (sempre) que os parêntesis (mesmo que pareçam indispensáveis) interrompem o fluir do discurso.

     7. Atenção a não causar... indigestão de reticências ...

     8. Usar o mínimo de aspas possível: não é “elegante”.

     9. Nunca generalizar.

    10. Palavras estrangeiras não fazem bon ton.

    11. Sê avaro de citações. Dizia justamente Emerson: “Odeio citações. Diz-me só o que sabes.”

    12. Comparações são como frases feitas.

    13. Não ser redundante; não repetir duas vezes a mesma coisa; repetir é supérfluo (por redundância entende-se a explicação inútil de algo que o leitor já percebeu).

    14. Só os merdosos usam palavras grosseiras.

    15. Sê sempre mais ou menos especifico.

    16. A hipérbole é a mais extraordinária das técnicas expressivas.

    17. Não fazer frases de uma só palavra. Nunca.

    18. Proteje-te das metáforas demasiado ousadas: são plumagem sobre as escamas de uma serpente.

    19. Coloca, as vírgulas, no sítio certo.

    20. Distingue a função do ponto e vírgula e dos dois pontos: embora não seja fácil.

    21. Se não encontras a expressão adequada, não recorras a expressões dialectais: aí tem bué de gato.

    22. Não usar metáforas incongruentes mesmo que te pareçam "cantar": são como um cisne a descarrilar.

    23. Há mesmo necessidade de perguntas retóricas?

    24. Sê conciso, procura condensar os teus pensamentos no menor número de palavras possível, evitando frases longas — ou interrompidas por frases intercaladas que inevitavelmente confundem o leitor menos atento — a fim de que o teu discurso não contribua para o inquinamento da informação que é certamente (especialmete quando recheado de precisões inúteis, ou pelo menos não indispensáveis) uma das tragédias deste nosso tempo dominado pelos poderes dos media.

    25. Os acêntos nâo devem ser incorréctos nem inùteis.

    26. Não se coloca apóstrofo n'os artigos nem p'r'abreviar .

    27. Não sejas enfático ! E sê parco com as exclamações !!

    28. Nem os piores fãs das barbáries pluralizam termos estrangeiros.

    29. Escreve de modo exacto os nomes estrangeiros, como Beaudelaire, Roosewelt, Niezsche, e similares.

    30. Nomeia directamente autores e personagens de quem falas, sem perífrases. Assim fazia o maior poeta sadino do século XVIII, autor de três volumes de Rimas.

     31. No início do discurso usa o captatio benevolentiae, para agradar ao leitor (mas talvez sejas tão estúpido que não entendes mesmo o que eu estou a tentar dizer). 

     32. Cuida minussiosamente da ortugrafia.

     33. Nem vou dizer-te quão irritantes são as preterições.

     34. Não mudar frequentemente de parágrafo.

           Pelo menos, quando não for preciso.

     35. Não usar nunca plurais majestáticos. Estamos convencidos de que causa péssima impressão.

     36. Não confundir a causa com o efeito: estarias enganado e portanto a cometer um erro.

     37. Não construir frases cuja conclusão não siga logicamente das premissas: se todos fizessem assim, então as premissas resultariam das conclusões

     38. Não indulgir com arcaísmos, hapax legomena ou outros lexemes inusuais, bem como deep structures rizomáticas que, enquanto te agradem como epifanias de différance gramatológica e convidem à deriva desconstrutiva – pior ainda seria se resultassem censuráveis ao escrutínio de quem leia com acribia ecdótica – excedem as competências cognitivas do destinatário.

    39. Não deves ser prolixo, mas também não deves dizer menos do que.

    40. Uma frase completa deve ter.

Algumas regras do original de Safire são demasiado úteis para ficarem esquecidas. Vale a pena ler o original, em que o humor tem um toque inglês. Exemplos:

- Reserve the apostrophe for it's proper use and omit it when its not needed.
- Don't use no double negatives.


(*)Ver aqui:
 http://www.maximumawesome.com/reference/g-safire.htm

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